...era dirigido pelo Prof. Álvaro Calado. E, maior curiosidade...o Prof. Álvaro Calado era natural de Estarreja, terra onde nasci. E mais...desde os meus 8 anos, sou proprietária do violino que lhe pertencia. Há coisas...:)Uma Ponte com Elevadores
Por JOSÉ MANUEL LOPES CORDEIRO
Domingo, 18 de Fevereiro de 2001
Uma das mais notáveis obras de arte da cidade do Porto é, sem dúvida, a Ponte da Arrábida. Inaugurada em 22 de Junho de 1963, após um período de construção que demorou seis anos, esta magnífica realização do engenheiro Edgar Cardoso apresentava na época o maior arco de betão pré-esforçado do mundo, transpondo um vão de 270 metros, recorde que, no entanto, foi ultrapassado logo no ano seguinte, com a construção das pontes de Gladesville, sobre o rio Parramatta, em Sydney, Austrália, e da Amizade, sobre o rio Paraná, entre o Brasil e o Paraguai, cada uma delas vencendo um vão de, respectivamente, 305 e 290 metros.
A cerimónia de inauguração da Ponte da Arrábida foi incluída num vasto programa de comemorações, criteriosamente agendado para que coincidisse com a realização das tradicionais festas da cidade, entre 21 e 25 de Junho, por ocasião do S. João. Para além das manifestações protocolares, que preenchiam uma parte considerável das iniciativas previstas, o que ressalta hoje em dia de uma simples análise desse programa é o facto de uma inauguração de uma obra de arte deste tipo ter sido acompanhada por um tão diversificado conjunto de iniciativas culturais e, também, desportivas.
Entre as múltiplas iniciativas culturais que integravam o programa de comemorações, e referindo apenas as mais significativas, contam-se, no dia 21 de Junho, a inauguração das exposições "O Rio e o Mar na Vida da Cidade", organizada pela câmara municipal na Casa do Infante, e "O Porto de Amanhã", uma mostra sobre o urbanismo da cidade, durante a qual foi apresentado o respectivo plano director, que teve lugar nos paços do concelho.
No dia seguinte, pelas 16h00, decorreu a cerimónia de inauguração oficial da ponte e seus acessos, e também a inauguração da exposição bibliográfica "O Rio Douro e a sua História", na Biblioteca Pública Municipal, realizando-se à noite dois espectáculos, um de teatro, que apresentou a comédia em um acto, de Almeida Garrett, "Falar Verdade a Mentir", com encenação de Dalila Rocha e cenário e figurinos de Ângela de Sousa, e um sarau de gala no Coliseu do Porto, que contou com a participação da Orquestra Sinfónica do Porto, dirigida pelo maestro Silva Pereira, da pianista Helena Moreira de Sá e Costa, e do Coro do Conservatório de Música do Porto, dirigido por Álvaro Calado. O sarau contou ainda com a apresentação do grupo de bailados "Verde Gaio", que estreou o bailado "O Douro Corre para o Mar", com música de Cláudio Carneiro e argumento de Margarida de Abreu e Fernando Lima.
Um tão nutrido programa de manifestações culturais não constituiu, contudo, a única atracção que envolveu a construção da Ponte da Arrábida. Já anteriormente, por incrível que hoje em dia nos possa parecer, a colocação do tramo central do arco da ponte - uma componente, de facto, espectacular, com cerca de 78 metros e 500 toneladas - suscitou uma inusitada concentração de espectadores nas suas imediações, os quais estavam convencidos que o mesmo não se aguentava e que acabaria por cair, expectativas que foram então frustradas, mas que alguns transferiram para o próprio momento da inauguração da ponte e da passagem das primeiras viaturas, sendo, contudo, novamente goradas as suas suposições.
Para além da particularidade de ostentar o maior arco de betão do mundo, a Ponte da Arrábida apresentava igualmente uma outra característica interessante, que era a de dispor de quatro elevadores, localizados no interior de cada uma das quatro pilastras, duas em cada margem, que separam a ponte propriamente dita dos viadutos
de acesso. Os elevadores, que estabelecem a ligação entre o tabuleiro da ponte e as duas avenidas marginais, foram nos anos subsequentes à inauguração utilizados regularmente pela população - que, deste modo, tinha o privilégio de realizar uma viagem verdadeiramente fora do comum -, mas nas últimas décadas foram desactivados, por razões de operacionalidade, ou melhor, da falta dela. Os elevadores movimentavam-se com uma velocidade de dois metros por segundo, dispondo cada um deles de uma capacidade de transporte de 25 pessoas.
Num momento em que a cidade do Porto está a sofrer inúmeras obras de recuperação e beneficiação que, aliás, prevêem uma intervenção na própria Ponte da Arrábida - nomeadamente a sua
pintura e a substituição das juntas de dilatação e dos sistemas de drenagem -, a cargo do Icor (Instituto de Conservação Rodoviária), não deixaria de ser oportuno reabilitar os seus elevadores, devolvendo-os à população, que de certeza não desperdiçaria essa oportunidade de usufruir de um meio de transporte adicional, e que em muitos casos seria extremamente vantajoso.
Parece, no entanto, que tal não irá acontecer. Em declarações à imprensa, um dos responsáveis do Icor afirmou que, em virtude dos elevados custos de manutenção, segurança e operacionalidade, "não fazia sentido" a recuperação dos elevadores. Muito provavelmente, o que "não faz sentido" é proceder à recuperação da ponte excluindo a dos elevadores e eliminando uma das suas características mais interessantes. Estamos até convictos que, se for organizado um referendo - actualmente muito na moda em matéria de elevadores -, para que a sua recuperação seja englobada nas obras de reabilitação da ponte, não será difícil recolher 4999 assinaturas de cidadãos portuenses a favor da sua realização, das cinco mil que parece serem necessárias. Resta saber a quem deverá ser solicitada a última assinatura